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Published fevereiro 1, 2024
Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição. (Marcos 7.9)

O valor de um vinho é dito pela sua idade; quanto mais antigo, mais precioso é. Mas a Verdade divina não é assim. Há dois mil anos, as palavras de Cristo foram tão preciosas quanto são hoje. Adoramos o Deus da antiguidade, de fato, mas não é a Sua antiguidade que o faz merecer a nossa adoração. Ele merece toda a glória para todo sempre por ser o Deus único e verdadeiro. 

É normal o ser humano sentir receio de mudanças. Nas nossas rotinas e dia-a-dia, preferimos o que é comum. Mas as palavras de Cristo neste versículo nos fazem refletir sobre as nossas próprias tradições. Nem sempre a tradição deve ser repetida. Os fariseus não quiseram negar suas tradições para obedecer a Deus. Não quiseram abrir mão daquela série de ensinos e expectativas passados de pai para filho já há tantas décadas. “Como podemos abrir mão daquilo que nos assegura da nossa justiça? Como desacreditar aquilo que nos passa tanta certeza que estamos nos caminhos de Deus?” Pode ser que suas tradições começaram com boas intenções: um cuidado em executar toda a lei de Deus, uma preocupação em estimar a opinião dos sábios mais antigos. Mas aos poucos aquela tradição foi sugando a vida daquela religiosidade, exterminando qualquer sinal de graça ou obediência genuína. Amaram mais ao tradicionalíssimo do que à genuinidade. 

O tradicionalismo surge sutilmente. Russell Shedd comenta:

“Assim como o camaleão, que se esconde nas rochas ou na selva conformando-se ao pano de fundo, os tradicionalistas querem, a todo custo, acompanhar os costumes dos que ingressaram na igreja antes deles e pensar como eles pensam. […] O tradicionalista mostra zelo pela “lei” de sua igreja e denominação, porque entende que aí ele encontra o receptáculo da sabedoria dos séculos. Uma vez que os sábios teólogos do passado destilaram da Bíblia e do cristianismo histórico o que realmente importa, porque não concluir que a obrigação que a graça exige está nessa tradição?”[1. SHEDD, Russell. Lei, Graça e Santificação, Edições Vida Nova, 2012, p. 35.]

E este é o grande perigo em seguir o mero tradicionalismo: somos levados a despejar sua fé na própria tradição. “Não posso errar enquanto eu estiver copiando os puritanos neste sentindo, os monges da Idade Média neste sentido, e meu pastor favorito neste outro sentido.” Mas a segurança da nossa salvação não se encontra na imitação de homens. A salvação e todas suas implicações surgem da pessoa de Jesus Cristo. A tradição pode testificar a essa Verdade, mas nunca poderá substitui-lá.

Como se proteger do tradicionalismo? Sugiro quatro atitudes:

  1. Reconheça que a verdadeira tradição cristã é aquela que aponta a Cristo, e não a si mesmo. Quando Paulo disse, “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11.1), a ênfase está na pessoa de Cristo. Paulo não procurava que seus ouvintes fossem pequenas cópias xerox de si mesmo. Antes, desejava que sua obediência a Cristo incentivasse os demais a fazer o mesmo.
  2. Procure conhecer as raízes das suas tradições. Como surgiram? Aonde surgiram? Como foram modificados tanto para o bem como o mal ao longo dos anos? Quais são seus pontos fracos? Quem defendia essa tradição, e quais foram seus argumentos? Estude a genealogia das suas tradições eclesiásticas, culturais e teológicas. Conhecendo sua história, você poderá defende-la com convicção.
  3. Lembra-se que devemos obedecer a Deus hoje. O que homens santos fizeram ou deixaram de fazer a 500 anos atrás não pode servir de desculpa por sua desobediência atual. Você é responsável pelo que você faz hoje.
  4. Antes de comparar-se com sua tradição, compare-se com a Palavra de Deus. Por mais que você estime a sua genealogia teológica, não será ela que te julgará; responderemos à Palavra de Deus (Jo 12.48). Tradições são sujeitas a mudanças, para bem ou mal. Somente a Palavra de Deus permanecerá para sempre. 

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