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Published fevereiro 1, 2024

Um dos argumentos comuns acerca das nossas crianças é quanto a necessidade de permitir que eles tenham mentes abertas. Afinal, ter uma ‘mente fechada’ sugere que você não está disposto a considerar alternativas daquilo que você entende como sendo a verdade.

Ainda que — cá entre nós — tudo mundo tem uma mente fechada em algum quesito. Tenho uma mente fechada quanto à ingestão de veneno, maltratar minha mãe, e retirar produtos do mercado sem pagar o devido preço. Aliás, a nossa sociedade parece incentivar uma mente fechada quanto a aceitação do racismo e preconceito.

Me parece então que ter uma mente fechada não é a questão em pauta. A grande questão, então, é que nossos filhos devem ter uma mente aberta quanto a diversidade de valores. Eles devem entender que há outros valores além daqueles que conhecem ou preferem.

Ou seja: na grande sorveteria de valores, embora já conhecem e gostarem do sabor chocolate, é crucial que reconhecem que há OUTROS sabores que não sejam chocolate.

Mas agora uma pergunta vital: para reconhecer que há outros sabores, é necessário que eles EXPERIMENTAM de todos os demais sabores? Ou basta simplesmente reconhecerem que outros sabores existem?

Essa pergunta é chave para entender o caos ético no qual a nossa sociedade se encontra.

Por exemplo: reconheço que há outras opiniões quanto a poligamia. Não tenho uma mente fechada no sentido que imagino que todo ser humano no mundo compartilha da mesma opinião que eu. Mas embora reconheço que existe outros valores quanto ao casamento, não preciso — para provar minha inteligência — EXPERIMENTAR de todos os valores existentes. Para provar que tenho a capacidade mental de considerar a opinião alheia, não preciso ADOTÁ-LA.

Da mesma forma com meus filhos. Eles sabem que não devem colocar seus dedos na tomada. Foi eu que passei esse conhecimento para eles. Não foi necessário que eles experimentassem o choque de 220v para terem, de fato, uma mente aberta quanto as tomadas.

Portanto, não me vem com esse lixo intelectual que sugere que meu filho terá uma mente fechada caso ele não experimentar todas as mil e umas variações artísticas, musicais, sexuais, financeiras, éticos, etc.

Meu papel como pai não é abrir sua cabeça para que ele enxerga tudo. Isso ele já faz. Afinal, ninguém ensinou meus filhos a inserir, logo nos primeiros meses de vida, tudo nas suas bocas, seja moeda, bola de gude, ou areia. Nasceram já com essa vontade de experimentar tudo que veêm pela frente.

Ciente de que eles absorvem tudo, meu papel como pai é ser um filtro: tirar da sua boca o que lhes faria mal, e colocar na sua boca aqueles alimentos que lhe fará bem.

No ámbito dos valores, meu papel é o mesmo: proteger, alimentar e direcionar. Eu faço para meus filhos o que eles não podem fazer por si.

Meu filho vai crescer ciente de que há outros sabores e outras sorveterias no mundo. Mas não serei um monstro e repetir aquela mentira tão vomitada pela nossa sociedade que afirma que todos os sabores tem o mesmo valor e é necessário experimentar de todos para não ser um velho quadrado.

Porque insistir na mentira é fechar a mente para a verdade.