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Published janeiro 29, 2024

INTRODUÇÃO

Contexto da passagem: A hora da morte e ressurreição de Jesus Cristo está próxima. Isso está claro: “Chegou a hora de o Filho do Homem ser glorificado” (Jo 12.23), “Jesus sabia que havia chegado sua hora de deixar este mundo e voltar para o Pai” (Jo 13.1), “Jesus disse: Chegou  hora de o Filho do Homem ser glorificado e, por causa dele, Deus será glorificado” (Jo 13.31). Para essa hora Jesus Cristo, Deus todo-poderoso, havia nascido e crescido entre os homens. É uma hora de dor, de solidão, de angustia – mas de muita glória.

Agora minha alma está angustiada. Acaso devo orar: Pai, salva-me desta hora? Mas foi exatamente por esse motivo que eu vim! Pai, glorifica teu nome! Então uma voz falou do céu: “Eu já glorifiquei meu nome, e o farei novamente em breve”. (João 12.27,28)

Em João 17, encontramos palavras preciosas. São palavras do Senhor Jesus Cristo. É verdade que em todo o Novo Testamento podemos ler as palavras de Jesus, quando ele ensina seus discípulos ou ministra aos multidões.

Mas em João 17, Jesus Cristo não está falando com seus seguidores; ele fala diretamente com seu Pai. É um momento intimo da Trindade. Nós, os ouvintes, assistimos de longe, por assim dizer.

Toda a Escritura é ouro, comenta o pastor batista Charles Spurgeon, mas este capítulo é como se fosse uma pérola especial no meio do ouro. Ou, se todas as Escrituras fossem o mais belo céu, este capítulo é o sol e estrelas. Estudaremos os primeiros 5 versículos desta oração.

TEXTO

1 Depois de falar essas coisas, Jesus levantou os olhos ao céu e disse: Pai, chegou a hora. Glorifica teu Filho, para que também o Filho te glorifique,
2 assim como lhe deste autoridade sobre toda a humanidade,* para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste.
3 E a vida eterna é esta: que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste.
4 Eu te glorifiquei na terra, completando a obra da qual me encarregaste.
5 Agora, pois, glorifica-me, ó Pai, junto de ti mesmo, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse. João 17.1-5 (Almeida Século 21)

EXPOSIÇÃO

A dupla de artistas britânicos, Tim Noble e Sue Webster, criaram obras impressionantes, chamadas de “Esculturas de Sombra”. A primeira vista, as obras parecem consistir somente em sucata empilhada. Mas ao jogar uma forte luz naquela bagunça, aparecem belas sombras na parede: retratos detalhados, cidades com seus arranha-céu, pessoas sentadas ou andando. As sombras parecem tão reais que nunca se imaginaria que foram criadas empilhando recicláveis, ferramentas quebradas, pedaços de entulho – e até um gato morto. Se focasse nos objetos individuais, nunca se entenderia a obra inteira. É preciso que uma luz seja jogada na obra como um todo para entender o lindo propósito daquela.

As palavras de Jesus Cristo no inicio desta oração são uma forte luz que ilumina toda a criação. A palavra que se repita é “glória”. “Glorifica teu Filho, para que também o Filho te glorifique...” E através dessa lente, enxergamos o grande propósito da vinda, da morte, e da ressurreição de Jesus Cristo: glória.

Perceba como Jesus, nesta oração intercessora, se refere muitas vezes aos seus discípulos. Ele ora pela sua proteção (v. 11), sua união (v.21) sua consagração (v.17), e seu entendimento (v.24). Mas a primeira coisa que Jesus menciona nesta oração não se refere aos seus seguidores – e sim, a sua glória.

Jesus Cristo pede para ser glorificado. No caminho que leva a cruz, a rejeição e a morte, Jesus Cristo pede para ser glorificado. Nenhum homem ousa pedir isto. Deus não divide a sua glória com outrem. Mas Jesus Cristo é Deus, e pode tomar glória para si, sendo digno de toda a glória, e honra e poder, para todo sempre. Todo segundo desde a criação do mundo tem existido para a glória de Deus, e essa hora não será diferente. A santa Trindade será glorificada nessa hora.

Podemos perguntar, “O que é glória?” O pastor batista John Piper comenta que é muito mais fácil descrever um objeto do que descrever “glória”. Se alguém nunca tenha vista uma bola de basquete, por exemplo, podemos usar nossas mãos para demonstrar o tamanho aproximado, e ainda descrever seu peso e sua cor. Mas imagina que alguém que nunca tenha ouvido falar de glória pedisse que você defina o que ela é. O que você diria? Não é uma pergunta fácil.

Em Isaías 6.3, na visão que o profeta Isaías teve dos céus, os serafinas cantam ao perante o Trono:

Diziam em alta voz uns aos outros, “Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia de sua glória!”

Deus é tão santo que toda a terra está cheia de …. santidade? Não. Está cheia de sua glória. Porque a glória de Deus é a beleza da sua Santidade. Sua pureza é tão resplandescente que não pode ser ignorada. A glória de Deus leva homens a caírem como mortos. Perante a glória de Deus, todo homem vira adorador: todo joelho dobra, e toda linguá confessa que Ele é digno de louvor.

Em uma sociedade como a nossa que idolatra os famosos, a noção de glória é bem conhecida. O craque de futebol, a bela atriz da novela, os ricos e poderosos são capas de revista porque, de certa forma, o ser humano deseja enxergar uma beleza que excede a monotonia do seu dia-a-dia. Nossa natureza caída pede que fingimos ser aquilo que não são. “Finge ser merecedor de louvor; finge ser glorioso; finge ser digno”. Queremos ser aplaudidos por quem somos. Queremos ser aceitos do jeito que somos. Queremos uma glória que nos satisfaça.

Mas as Escrituras soam como trovão:

…Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. (Romanos 3.23)

Não somos dignos desta glória, desta beleza da santidade de Deus. Não podemos enxergar sua glória. Não podemos refletir sua glória. Não podemos compreender sua glória. E pior – não queremos glorificar Aquele que é digno de toda a glória. O coração do impio blasfema, “Glorifica a mim! A mim! A mim!”

Este é o grande contraste que encontramos no primeiro versículo do nosso texto: Jesus Cristo, a caminho da cruz, deseja glorificar a Deus, enquanto o pecador, pronto para crucificar o Rei dos Reis, busca para si a glória divina.

Como homens perdidos poderão conhecer a glória de Deus? A resposta está no nosso texto. Jesus Cristo tem toda autoridade e todo poder para “conceder vida eterna” a todos os escolhidos. Para qual motivo?

E a vida eterna é esta: que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste. (João 17.3)

Para conhecerem ao Deus glorioso através do Filho que foi enviado. Ou seja: em Jesus Cristo enxergamos a glória de Deus sem cairmos como mortos. Antes, em Jesus Cristo, somos ressurrectos para a vida, e vida eterna!

Foi para revelar a glória de Deus que Jesus Cristo nasceu, ministrou e morreu entre os homens. Para comunicar a grande, e bela glória de Deus. Fazer resplandecer a beleza da sua santidade, do seu amor, da sua misericórdia, do seu poder, da sua bondade.

Eu te glorifiquei na terra, completando a obra da qual me encarregaste. (v. 4)

Nenhuma obra ficou desfeita. Jesus Cristo não desviou do plano traçado pela mão divina na eternidade passada. A glória de Deus foi proclamada e exaltada. O propósito foi comprido. O fim está garantido: a glória está certa. O único Deus verdadeiro foi glorificado por Jesus Cristo. A cruz não foi um empecilho ou obstaculo na glória de Deus. Antes, foi o meio pelo qual Deus foi e está sendo glorificado. A mesma glória que o Filho teve antes da cruz, é a mesma que tem depois. Pois é digno de toda a glória.

Agora, pois, glorifica-me, ó Pai, junto de ti mesmo, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse. (v. 5)

APLICAÇÃO

  • A glória de Deus é a única que é eterna. As demais ‘glórias’ são momentâneas. Não podem revelar o único Deus verdadeiro. Você não foi criado para encontrar sua própria glória. Nosso universo não foi criado para ecoar sua própria glória. Deus nos criou para que conheçamos sua glória em Jesus Cristo. As Escrituras nos chamam a nos arrepender da nossa idolatria do “eu” – eu tenho, eu sou, eu fiz, eu posso. E confessarmos que somente Deus é digno de toda a glória, confiando que Jesus Cristo pode perdoar nossos pecados e transformar-nos.

Ao descrente:

  • Não encontramos a glória de Deus fora de Jesus Cristo. Temos alguns vislumbres da glória de Deus. Na criação, por exemplo. Os céus declaram a glória do Criador. Entendemos que Ele é maior e mais belo do que nós. Na graça comum também percebemos os traços da glória do Pai bondoso. Mas são, de certa forma, pistas. Dicas. Evidências de uma glória maior. Em Jesus Cristo a glória de Deus é revelada, de forma perfeita e única. Ninguém vai ao Pai senão por Jesus Cristo.

Ao crente:

  • Jesus Cristo não é um plano B. O Cristianismo moderno sugere que o cristão deverá se esforçar ao máximo a glorificar a Deus pelas próprias forças. E, se você se perder pelo caminho, recorra a Jesus Cristo para receber perdão, encorajamento e inspiração para voltar a tentar glorificar a Deus com suas próprias forças. O cristão é tímido a confessar sua incapacidade, sua fraqueza e seus pecados pois isso sugere que ele está errando o alvo. Mas o alvo é de fato confessar que sua glória é o que nos capacita! Nosso alvo é confessar que Ele é único que foi obediente até a morte, completando toda a obra. Veja, Jesus Cristo não é um estepe! Jesus Cristo não se torna necessário somente quando nossas forças se enfraqueçam. Antes, Jesus Cristo sempre foi e sempre será o brilhante estrela da manhã que ilumina todo o céu. É o Alfa e o Omega, o principio e o fim. Não somente uma parte gloriosa da obra, e sim toda a obra de glória!
    • Não seja tímido em confessar sua glória e sua fraqueza. Não tenha receio em admitir sua falta de fé, sua luta com orgulho, sua necessidade de andar na Luz da Sua presença. Você foi criado, chamado e transformado para confessar isso!
  • A vida eterna é cheia de glória! Cheia do resplandecer da santidade de Deus. Não haverá dor, nem lagrimas e nem angustia na presença de Deus – porque a beleza da sua Santidade preencherá todo centímetro da nossa eternidade. Que esperança gloriosa, que futuro glorioso, que Salvador glorioso!