Skip to content
Published janeiro 30, 2024
Pra você ver….o que é aceitável em uma cultura, pode ser uma grande ofensa a outra:
 
  • Os gregos comiam carne ‘de segunda mão’ que havia sido sacrificada aos ídolos.
  • João Calvino degustava vinhos e cervejas.
  • Martinho Lutero fazia sua própria cerveja artesanal.
  • Charles Spurgeon & C. S. Lewis fumavam charutos.
E tudo em moderação. Com exceção dos gregos, não há relatos desses homens forçando suas liberdades nos outros. E nem se entregando à embriaguez e vício, ou chamando de pecador quem não compartilhava dos mesmos gostos.
 
Mas mesmo assim, em certas culturas suas ações são tidas como extremamente ofensivas. Nossa cultura brasileira é uma delas. Em um país em que todo ano dedica-se uma semana inteira ao excesso público da carnalidade, não é de se estranhar que conhecemos bem aquela dor e sofrimento que são frutos de se procurar — no sexo, na nudez, na embriaguez — aquela satisfação e alegria que se encontra somente ao submeter-se ao Criador. A idolatria se disfarça de muitas formas, mas sempre com a mesma intenção: entregar à criação aquela adoração que é devida ao Criador. E o resultado desta deturpação é sempre o mesmo: um vazio cada vez maior.
 
Vivemos em comunidades que carregam marcas na própria pele da violência, divisão e ódio da embriaguez. É normal, portanto, que estranhemos o relato de que Lutero tomava cerveja artesanal enquanto traduzia o Novo Testamento para o Alemão. Nosso espanto, talvez, é maior do que o espanto dos judeus cristãos do 1º século se vissem os cristãos brasileiros pedindo carne mal passada nos churrascos familiares.
 
Reconheçamos, portanto, que toda cultura carrega uma bagagem. É preciso sensibilidade quando lidamos com ela. Não podemos fingir que ela não existe. Mas, ao mesmo tempo, não é a bagagem que nos norteia; é o Espírito Santo que nos conduz através da Sua Palavra. Se você é tentado a agir sem moderação — seja no comer, no beber, no folgar, no uso do cartão de crédito — saiba que a “temperança” (domínio próprio) é tanto fruto do Espírito Santo quanto o amor, paz e fidelidade. Santificação não é aborrecer uma liberdade e exagerar em outra simplesmente porque uma é aborrecida pela sua cultura e outra não. A santificação genuína é você usar da sua liberdade cristã para viver como o Senhor Jesus Cristo viveu: em submissão a vontade do Pai.
 
LIBERDADE PARA RECONHECER QUE HÁ LIMITES
 
O domínio próprio pode ter implicações diferentes na vida do cristão. Por exemplo, tenho com muito carinho a lembrança de um tio temente a Deus que, quando jovem, resolveu nunca praticar patinação no gelo. Estranho, né? É que nos lugares onde praticava-se essa modalidade, tocava um certo estilo de música que prejudicava sua obediência a Filipenses 4.8 (“tudo o que for correto, tudo o que for puro … se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas”). Ele não proibia nem condenava quem participava; só estava convencido que ele mesmo não devia frequentar esses lugares. Há homens piedosos que evitam shoppings, cinemas ou estádios pelo mesmo motivo.
 
Ou seja: podemos usar da liberdade tanto para recusar quanto para participar. O importante é usar da liberdade para refletir a glória de Deus. Em alguns contextos, é melhor usar da liberdade de não comer de carne oferecida aos ídolos, buscando edificação dos irmãos ‘mais fracos’. Em outros momentos, outra liberdade pode ser exercida.
 
LIBERDADE PARA REFLETIR A GLÓRIA DE DEUS
 
Em Filipenses 2.7-8 encontramos um ato chocante: o glorioso, eterno e soberano Jesus Cristo “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”. O Criador tomou forma da criação e sofreu a pena dos nossos pecados.
 
É uma liberdade que choca: Jesus Cristo deu sua vida para que nós pudéssemos ser seus irmãos. E agora os remidos devem ter este “mesmo sentimento”. Qual sentimento é esse? É a alegre disposição de sacrificar sua vida em prol do povo de Deus. É entender que a liberdade não é um fim em si mesmo, e sim um meio pelo qual refletimos a glória de Deus.
 
No século IXX, o missionário Adoniram Judson entendeu as implicações da liberdade cristã. Um missionário pioneiro que traduziu o Novo Testamento para birmanês, Judson abriu mão de seus costumes e preferencias, adotando vários aspectos da cultura birmanese, incluindo até o corte de cabelo. Assim como os professores budistas, Judson construiu um pequeno abrigo de bambu ao lado de uma estrada principal aonde viajantes pudessem ouvir suas pregações. Um ouvinte deu este testemunho: “É impossível fugir da convicção que sua alma inteira está dedicada ao seu ministério.
 
Existe melhor uso da nossa liberdade? Existe maneira melhor de refletir a glória de Deus do que edificando nossos irmãos? Se Jesus Cristo abriu mão da sua glória celestial para andar no meio de homens que blasfemavam, não devíamos usar da nossa liberdade para edificar aqueles que Ele resgatou para si? Se Ele provou seu amor dando a sua vida, não devemos — no mínimo — provar nosso amor entregando nossas prioridades e preferencias? “Conhecerão que sois meus discípulos se vos amardes uns outros.”
 
Visto desta forma, a liberdade cristã não veio para que pudéssemos vestir, comer, beber e experimentar tudo que queremos. Isso já fazíamos antes de sermos libertos por Jesus Cristo. Agora, transformados pelo Espírito Santo, somos capacitados a entregar tudo que queremos para refletir a glória de Deus e edificar o próximo. Temos liberdade para morrermos a nós mesmos e vivermos para Jesus Cristo.
 
Quanto a esse ponto, não podemos nos expressar melhor do que foi dito pelo próprio Deus aos cristãos Romanos:
 
“Uma pessoa considera um dia mais importante do que outro, mas outra julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente convicto em sua mente. Aquele que observa um dia, para o Senhor o faz. E quem come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come, para o Senhor deixa de comer, e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum de nós morre para si. Pois, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. […] Porque foi com este propósito que Cristo morreu e tornou a viver.”
 O PONTO-CHAVE
 
Nossa meta não é replicar a liberdade cristã de outrem, seja Lutero, Calvino, Spurgeon, Lloyd-Jones, Pink ou Nicodemus. Nosso alvo é replicar a liberdade de Jesus Cristo, que abriu mão da sua própria vida para resplandecer a glória do Pai e transformar vidas nos quatro cantos do mundo.
 
Se esse propósito de Cristo não for o nosso, estamos fazendo mal uso da nossa liberdade.